terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Discurso em crise



Discurso em crise

(Dedico este poema ao meu pai do coração Marcio Ziese)



Letras voam,
Aéreas no ar.
Consoantes, antes
Levadas a sério,
Hoje despencam
Em queda livre.


Vogais se chocam
Silabas abaixo.
Palavras já não existem mais.


Sons ecoam em dissonâncias,
Nada parece ressonante.


O que antes teria relevância,
Hoje já não encontro mais.


Há mais linguagem desabando
Do que ação se concretizando.


Estamos capotando em discurso.

Danielle Ronald de Carvalho

















Imagem de Luis Ferreira

2 comentários:

  1. Fabuloso texto, Dani.


    Ano passado tivemos a enorme satisfação de receber uma exposição do governo do Irã no Brasil que ficaria circulando pelas três cidades onde o time do Irã jogasse na Copa do Mundo. Belo Horizonte foi a primeira e única cidade contemplada pois essa seleção foi desclassificada rápido. O Instituto que trabalho recebeu em sua galeria de arte as peças de arte iraniana. Trabalhos magníficos com temas diversos incluindo, naturalmente a religião islâmica. Mas o que mais me surpreendeu na conversa com os iranianos, quase todos jovens e estudantes de doutorado na UFMG, foi o que se relaciona a herança a cultura persa da qual diziam que a pessoa deve ter uma coerência entre o pensar, o discurso e a ação pois esses são indissociáveis – de modo muito diverso da cultura brasileira na qual as pessoas normalmente falam mas não cumprem o que dizem :/ – outra dimensão fundamental para a construção do sujeito segundo eles é a necessidade de viajar e muito para conhecer novos locais e se relocalizar para poder comparar a cultura de onde vem e onde se está localizado. Eles apontam esse aspecto fundamental para o amadurecimento.

    Em um tempo em que as pessoas são descartáveis por não agirem de um modo compatível com certas expectativas, caprichosas até, se reconhece um empobrecimento da experiência e da liberdade de criação.

    Ouvir o outro cada vez mais, para além do discurso, mesmo porque o discurso pode ter tantas camadas de interpretação e estar sendo elaborado em função de aspectos tão imprevisíveis ( por exemplo em contextos de falta de sentido da pessoa que o profere) se torna uma dimensão de elegância e responde-lo, ou seja, dialogar funda essa elegância de um modo mais marcante. Nos últimos dias conheci pessoas com essa elegância e confesso me sentir em casa.

    É preciso ser um sujeito desenvolvido para sustentar o diálogo e admito, a partir de outras informações que eu nem mencionei, essa herança persa é linda! E os iranianos que encontrei pela vida até agora tem um brilho maravilhoso. Seria você uma princesa persa? ;)

    PARABÉNS pelo texto.

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